POR MITSI GOULIAS
ILUSTRAÇÕES DE SÍRIO BRAZ
1 - Que cuidados devo tomar para não
queimar meu filme no meio da rua?
Em certos países, comportamentos absolutamente
normais para nós, brasileiros, podem virar grosseria se feitas em público.
Na Coréia do Sul, ninguém assoa o nariz na rua e, no Japão, as
pessoas não espirram diante das outras. Em Seul, não tente atravessar
avenidas e ruas. Prefira as passagens subterrâneas existentes em todos
os cruzamentos. Em lugares como a Suíça, os pedestres que cruzam a rua
fora da faixa ou com sinal vermelho são advertidos. No Japão, pega mal
falar alto ou gargalhar de uma piada, principalmente para as mulheres.
Na Indonésia e Tailândia, casais de namorados não devem se beijar ou
trocar carícias na frente dos outros. Para os indianos, ser encarado
por estranhos é uma forma de humilhação. Em cidades grandes como Nova
York e Paris, os inevitáveis esbarrões devem ser acompanhados de
"Excuse me" e "Pardon".
2 - Em que países as minhas roupas
podem me deixar numa saia-justa?
Nos países islâmicos, principalmente. Nos mais
ortodoxos, as mulheres andam cobertas da cabeça aos pés, sem expor braços
ou pernas. Os cabelos também ficam escondidos sob um véu, que só pode
ser retirado diante do marido. Dos homens, espera-se que andem com
camisas de mangas longas e calças compridas. No período do Ramandan,
esqueça as cores fortes, especialmente o vermelho. Na Índia, a menos
que queira ser mais fotografado do que o Taj Mahal, não use roupas
justas e decotadas. No Egito, só vista roxo se estiver de luto. Na
Europa, saiba que os minúsculos biquínis brasileiros causam furor.
Ali, o topless é encarado com naturalidade - mas as tangas,
decididamente não.
3 - O que devo levar em conta na hora
de cumprimentar?
Esteja preparado tanto para ganhar um beijo na
bochecha (ou até na boca!) de um marmanjo russo quanto uma cuspida no pé
de um maori da Nova Zelândia. O universal aperto de mão vale para
muitos países, mas você vai deixar uma boa impressão se adotar a
saudação típica do lugar. Japoneses, chineses e coreanos curvam-se
para a frente, intensificando a inclinação para demonstrar respeito.
Indianos e tailandeses juntam as mãos em forma de prece, na altura do
peito. Nos países islâmicos, utilize a mão direita para tocar o coração,
a testa e acima da cabeça, nesta seqüência. Nos EUA, contenha-se. Não
saia distribuindo beijos, prefira o aperto de mãos. Os latinos trocam
abraços e tapinhas nas costas, mas os povos escandinavos são avessos a
demonstrações efusivas. Se você ainda prefere o tradicional aperto de
mão, nunca o faça com a outra no bolso, o que é visto como tremenda
falta de educação em lugares como a Alemanha.
4 - Que povos, além do britânico,
cobram uma pontualidade britânica?
Não são só os ingleses. Também os suíços, alemães,
escandinavos e orientais em geral estão entre os povos mais pontuais do
mundo. Em seus países os trens partem, por exemplo, em horários
quebrados - como 9h37. Nos Estados Unidos, espera-se que, ao reservar
uma mesa num restaurante, a pessoa chegue com cerca de quinze minutos de
antecedência. Já na América Latina, o conceito de pontualidade pode
ser bem elástico. Mas tenha em mente que chegar atrasado é visto como
um desrespeito ao tempo dos outros.
5 - E que sinais utilizados no
dia-a-dia podem acabar confundindo o visitante?
O círculo feito com o polegar e o dedo indicador,
que para nós é gesto obsceno, para os americanos significa o.k. No Japão,
quer dizer dinheiro; na França, algo sem valor; na Alemanha, equivale a
chamar alguém de idiota e, na Tunísia, é uma ameaça de morte. Na
Tailândia e Bulgária, os movimentos de sim e não feitos com a cabeça
são invertidos. Na Austrália, fazer o "V" da vitória ou o
conhecido gesto positivo com a mão fechada e o polegar para cima quer
dizer que você está mandando alguém para aquele lugar indevido. Na
Turquia, Romênia, Grécia e em alguns países latinos, a mão em figa
tem conotação sexual, enquanto na Polônia, Rússia, Iugoslávia e
Bulgária é uma resposta de cunho negativo. O gesto usado para pedir
carona vira um convite sexual na região da italiana Sardenha, na
Turquia e na Grécia. No Egito, esfregar os dois indicadores em
movimentos paralelos é interpretado com segundas intenções.
6 - O que recomenda a prudência evitar
ao tentar iniciar uma conversa fora do país?
Evite assuntos polêmicos como política, religião e
futebol. Cuidado ao fazer piadas. O senso de humor varia entre os povos.
Não confunda um austríaco com um alemão, um belga com um francês, um
lituano com um russo e muito menos um iraniano com um árabe. Canadenses
não apreciam comparações entre seu país e os Estados Unidos.
Sul-africanos já se cansaram de falar do apartheid. Russos não
gostam de ser tratados pelo termo camarada (taváritch). Os alemães
levam a sério comentários como "a gente se fala" ou
"passa lá no hotel". No Japão, os elogios costumam ser
encarados como falsidade. Na França, saiba que será mais bem tratado
se mostrar que conhece algumas palavras em francês. Nos EUA, não se
meta em discussões com autoridades. Perguntar a um americano quanto ele
pesa, mede ou ganha também não é a melhor maneira de fazer amizade. E
cuidado, muito cuidado, para não se enrolar todo com o portunhol.
7 - As relações entre homens e
mulheres seguem normas rígidas nos países islâmicos. Como devo me
comportar?
O ideal é manter uma distância respeitosa do sexo
oposto. Rapazes, não saiam encarando as mulheres; garotas, estejam
atentas, a liberdade feminina é bem restrita. Além de terem de cobrir
boa parte do corpo, muitas mulheres muçulmanas só podem sair à rua
acompanhadas de outra mulher ou do pai, marido, irmão ou outro parente
do sexo masculino. Também fazem as refeições em separado e não têm
permissão para dirigir carros. Já o homem pode manter várias esposas.
Namorados só devem se tocar depois do casamento. Nos transportes públicos,
pessoas do sexo oposto não se sentam lado a lado.
8 - Como manter a elegância na hora de
fotografar os outros?
Lembre-se de que nem todo mundo gosta de ser
fotografado. Mesmo no Brasil, há diversas superstições a respeito. Se
quiser fazer o retrato de alguém, recomenda-se sempre pedir autorização.
É educado e não arranca pedaço. Vários museus e templos não
permitem fotos internas ou com o uso do flash. Respeite essas regras e
também não invada áreas restritas, pois a vergonha de ter a atenção
chamada em público não compensa nem a mais linda foto. Em certos países,
você é que pode estar na mira da câmera dos outros. Foi o que
aconteceu com a secretária Andréa de Camargo. "Eu me senti a
rainha da Inglaterra na Índia. Os indianos viviam pedindo para tirar
foto ao meu lado, por causa da minha pele clara", conta.
9 - Quanto dar de gorjeta sem parecer
grosseiro ou um otário mão-aberta?
Em primeiro lugar, fique atento à conta para ver se
o serviço está incluído. Se não estiver, calcule entre 10% e 15%
sobre o valor total. Tenha em mente que muitos profissionais garantem
seu rendimento graças a elas, mas aumente a porcentagem apenas se
considerar o serviço excepcional. Há lugares, porém, como Cingapura,
onde a gorjeta não está entre os hábitos difundidos no país. Elas
chegam a ser proibidas nos aeroportos. Na Coréia do Sul e no Japão, não
se espera receber esse tipo de gratificação.
10 - Que gestos podem ser mal
interpretados no exterior?
Nos países árabes, mostrar a sola do sapato ao
cruzar as pernas é grosseiro, pois esta é considerada a parte mais
suja. Exibir a palma da mão para um grego, com os dedos esticados e
abertos é a pior ofensa. Provém do costume bizantino de esfregar
sujeira no rosto dos inimigos. Colocar as mãos nos quadris e encarar um
mexicano dá a entender que você o está chamando para uma briga. Na Bélgica
e na França, não pega bem para um homem ficar em pé, com as mãos nos
bolsos, enquanto conversa com alguém. Na Itália, não apalpe as frutas
para ver se estão maduras, a menos que queira aprender palavrões.
11 - Não quero dar vexame à mesa. Que
modos devo adotar?
No Japão, esqueça algumas recomendações da sua mãe:
coma o macarrão colocando uma extremidade na boca e sugando o resto;
tome sopa direto da tigela, sem colher. Coreanos e chineses dividem o
mesmo prato central. Tomar a sopa ruidosamente na China é um elogio aos
anfitriões. O mesmo vale, nos países árabes, para um arroto após as
refeições. Na Índia, Malásia, Egito, Marrocos, Arábia Saudita e
Tailândia, use só a mão direita. A esquerda é para a higiene íntima.
Na Inglaterra, não "enxugue" o molho com o pão. Ou será
confundido com Conan, o Bárbaro. O mesmo pensarão os franceses se você
usar palito de dentes.
12 - Que regras valem para as bebidas?
Nos países islâmicos, a regra é: não beba. A
bebida alcoólica é proibida. Em lugares como Irlanda e Rússia, seu
anfitrião vai ficar ofendido se você não aceitar um drinque. Vários
povos são afeitos a brindes, como os chineses e escandinavos. Nessa
hora, deve-se olhar para todos os presentes e só depois dar o primeiro
gole. Na Alemanha, os homens é que tomam a iniciativa do brinde, jamais
as mulheres. Na Tailândia e no Tibete, é costume oferecer uma bebida
quente ou fria aos visitantes, uma espécie de chá. Mas nada se compara
à cerimônia do chá realizada no Japão. É um dos costumes mais
antigos e tradicionais da cultura nipônica - e dura uma eternidade. O
advogado Gustavo Araújo sentiu no corpo o peso de séculos de tradição.
"Quase estraguei a cerimônia quando comecei a ter espasmos nas
pernas por ter ficado tanto tempo de joelhos", lembra.
13 - Como não dar um fora na hora de
presentear alguém ou ser presenteado?
Nunca, jamais, em hipótese alguma, dê um presente
na Arábia Saudita ou no Marrocos a uma mulher casada. Seria tremenda
ofensa ao marido. Nos países orientais, ofereça o presente com as duas
mãos e não o tome de volta se ele for recusado até três vezes. Faz
parte da etiqueta. Também não espere que seja aberto na sua frente:
eles acham que é dedicar mais importância ao objeto do que ao ato em
si. Na Coréia do Sul, China e Japão, evite dar presentes compostos de
quatro unidades, pois o número traz mau agouro. Em Hong Kong, opte por
um par de objetos. Um só dá azar. No Japão e na China, não embrulhe
o pacote com papel branco, que é a cor do luto, e nunca dê um relógio,
pois simboliza a morte para esses dois povos. Um chapéu ou boné verde
dado a um chinês é a mesma coisa que dizer que a mulher o está
traindo. Não presenteie um hindu com artigos de couro - as vacas são
sagradas para eles. A empresária Márcia Sztajn foi convidada a visitar
uma família na Jordânia e resolveu levar presentes para as duas
mulheres do anfitrião. "Por causa da escala hierárquica daquela
família, os presentes acabaram indo para a mãe e a irmã do dono da
casa", diz.
14 - Como devo agir em relação ao
cigarro?
Se você for para os Estados Unidos, conforme-se com
um feroz patrulhamento antitabagista. Cada vez menos é permitido fumar
em locais fechados - nem simulando um ataque de abstinência você vai
conseguir convencer os severos americanos a deixá-lo dar uma pitadinha.
Por isso, sempre peça permissão antes de acender o cigarro. Na Europa,
já acontece o contrário: eles fumam praticamente em qualquer lugar,
inclusive à mesa, mesmo se alguém ainda estiver comendo. Em Cingapura,
jogar pontas de cigarro na rua é punido com multas altíssimas. Nas
Filipinas, raramente encontra-se uma mulher fumando em público.
15 - Vou viajar a trabalho para o
exterior. Quais atitudes podem ajudar ou afundar?
De acordo com a consultora de comportamento
internacional Suzana Doblinski, o melhor procedimento é se informar
antes sobre a cultura do país a ser visitado e, sobretudo, não ter
vergonha de perguntar. O que é apreciado em um lugar pode não fazer
diferença em outro. Na Itália, você vai agradar se chamar seu
interlocutor pelo título (doutor, engenheiro), seguido pelo sobrenome.
Na França, o prenome nunca é usado nos contatos comerciais e, nos EUA,
convém perguntar como a pessoa prefere ser chamada, para evitar
constrangimentos. Algumas regras de postura também devem ser
observadas. Na Alemanha, por mais calor que esteja, nunca tire o paletó
e arregace as mangas da camisa. Isso é visto como sinal de desleixo. Na
Suíça, ficar largado na cadeira beira à grosseria. A troca de cartões
de visita adquire requintes quase ritualísticos nos países orientais.
A etiqueta manda recebê-los com as duas mãos, analisá-los com atenção,
nunca escrever sobre eles e mantê-los diante da mesa, em vez de colocá-los
no bolso. Leve um bom estoque e, se possível, mande imprimir no verso
as informações no idioma do país que visitará. Entregue-os virados
para o interlocutor e esqueça para sempre aquele antigo costume de
dobrar a pontinha. Nos países islâmicos, não estranhe se a reunião
for interrompida num momento crucial. Reza-se cinco vezes ao dia.
16 - O que é recomendável saber sobre
os costumes alimentares mais exóticos?
Cuidado. Carne de cachorro na Coréia, sopa de cobra
na Índia, pênis de carneiro no Azerbaijão, cabeça de bode na
Espanha, assado de sapo em Hong Kong, crustáceos vivos no Japão e
baratas fritas na Tailândia são iguarias finas nesses países. O pior
é que, em lugares como a China, é um insulto recusar a comida.
Disfarce, provando um pouco e espalhando o resto no prato. Se estiver na
Jordânia, você ainda terá a chance de recusar duas vezes, mas na
terceira deverá comer. Prepare o paladar para os pratos extremamente
apimentados servidos no Nepal, Índia e Tailândia. Em Israel, os judeus
mais religiosos não misturam carne com leite e tampouco comem carne de
porco. Na Itália, a salada é servida depois do prato principal. A
jornalista Claudia Matarazzo teve de pôr em prática seus reconhecidos
conhecimentos de etiqueta durante um banquete no Japão. "Numa bela
bandeja nos serviram vários camarõezinhos... vivos", lembra.
"Eu não tinha a menor vontade de comer aquela coisa que não
parava de mexer os bigodinhos, mas não teve jeito. Nem estava tão
ruim. O pior foi a má impressão."
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