POR MITSI GOULIAS
1 - O que devo (ou não) comer a bordo?
Dê preferência às saladas e frutas, alimentos facilmente digeridos
pelo organismo até mesmo em ambiente de baixa pressão atmosférica e
altitude elevada. Para você ter uma idéia de como essas condições
podem interferir em sua digestão, imagine uma bexiga de borracha - você
acaba de enchê-la e entra com ela no avião. Sabe o que vai acontecer?
A bexiga aumentará de tamanho durante o vôo, pois o gás se modifica
em razão da baixa pressão na aeronave. A imagem, nada poética,
ilustra o que acontece com os gases no interior do seu organismo. Se
comer (no avião ou pouco antes de embarcar) alimentos que estimulam a
formação de gases, como feijão, lentilha, abóbora, cebola, repolho,
couve, pepino ou salsicha, a digestão será mais difícil e você vai
se sentir "inchado". É por isso que os refrigerantes também
são contra-indicados, assim como as frituras, as carnes vermelhas e os
molhos. Dá agora para entender por que as empresas aéreas tentam
evitar o desconforto, oferecendo refeições em pequenas porções?
2 - Sofro de labirintite. Vou ter
problemas durante o vôo?
Recentemente, a secretária Catarina Marcelina preferiu enfrentar
dezessete horas de ônibus, entre São Paulo e Foz do Iguaçu, em vez de
fazer o mesmo percurso em uma hora e meia de avião. "Morro de
vontade de voar, mas tenho medo de me sentir mal", confessa. Por quê?
Catarina sofre de labirintite, uma inflamação do labirinto, formação
interna do ouvido que é responsável pelo senso de equilíbrio. A reação
de Catarina é exagerada: apenas em situações de crise, uma viagem de
avião é desaconselhada - e isso porque a pressão interna do ouvido
doente vai entrar em choque com a da aeronave, provocando dor. Mas há
medicamentos preventivos que são receitados pelos especialistas para
controlar os efeitos da labirintite durante o vôo.
3 - O vôo vai ser longo. Como posso
diminuir o jet lag, após o desembarque?
Os efeitos do jet lag (fadiga, insônia, dor de cabeça, dificuldade de
concentração, entre outros) são mais sentidos por quem se desloca no
sentido Oeste-Leste. Isso explica por que a viagem de ida para a Europa
é mais cansativa do que a de volta. Quanto maior a diferença de fuso
horário, pior a adaptação: o corpo humano precisa de um dia para se
ajustar. Mas, seja qual for a direção, procure o quanto antes fazer as
refeições e dormir na mesma hora que os moradores do lugar. Se o avião
chegar de noite, evite dormir durante o vôo. Porém, se a chegada for
de manhã, durma o que puder no avião e desista de ir para a cama, após
o desembarque. Ao contrário, faça questão de tomar um longo banho
para reidratar o corpo; dê uma caminhada para aclimatizar o organismo e
beba muita água durante os dias seguintes a sua chegada. Nos Estados
Unidos, o último lançamento no combate ao jet lag é o aparelho
chamado Bio-Brite Jet Lag Visor (www.biobriteinc.com). Ele emite raios
luminosos que, garante o fabricante, ajudam o organismo a se ajustar aos
novos horários (preço: US$ 339).
4 - Sigo uma dieta alimentar. O que
posso comer durante o vôo?
As empresas aéreas estão preparadas para servir refeições especiais
para passageiros que evitam algum tipo de comida por razões físicas,
religiosas ou simplesmente por uma questão de gosto. No mínimo, elas
podem oferecer 18 variedades de pratos. Mas a TAM, a Singapore Airlines
e a United Airlines destacam-se no mercado com o cardápio de 25 opções,
entre elas, dieta para diabéticos, vegetarianos, comida hindu,
japonesa, kosher, mórmon, sem colesterol, à base de frutos do mar e
para crianças. Ninguém paga 1 centavo a mais por isso. Só precisa
fazer o pedido com antecedência - no ato da reserva, por exemplo. Mas
atenção: se o vôo for alterado, lembre-se de pedir a transferência
da refeição.
5 - Bebidas alcoólicas ajudam (ou não)
a relaxar?
Depende da dose - e de quem bebe. Para alguns, uma dose de uísque não
apenas relaxa como também faz menos mal do que um refrigerante (que
provoca gases). Para outros, a mesma bebida aumenta os sintomas do jet
lag. Moral da história? Cada pessoa é um universo, com um grau específico
de resistência ao álcool. Está comprovado, no entanto, que é duas
vezes mais fácil ficar bêbado em um vôo do que em terra firme: a
altitude e o ar rarefeito no avião potencializam os efeitos do álcool.
Para inibir esse consumo, empresas aéreas dos Estados Unidos já começaram
a cobrar por bebidas servidas nos vôos domésticos, caso da Delta
Airlines, United Airlines, Continental e TWA.
6 - Que tipo de roupa devo usar na
viagem de avião?
A mais confortável possível. Leve em conta que a baixa pressão atmosférica
na aeronave faz o corpo "dilatar". E tudo o que você vestir
vai parecer um número menor. Assim, as mulheres estão proibidas de
usar sutiã e jeans apertados ou sapatos de saltos estratosféricos. O
mesmo vale para calças, camisas e paletós usados pelos homens
(gravata? Nem pensar!). Prefira roupas de fibras naturais (algodão) ou
que tenham stretch na composição - elas esticam e não amassam. Cores
escuras também disfarçam o visual amarfanhado de quem passou horas na
poltrona de classe econômica. Outra dica é carregar um blazer: Você
tira ou coloca essa peça segundo a variação da temperatura dentro (e
fora) do avião.
7 - Existem acessórios que tornam um vôo
mais confortável?
Quem viaja na primeira classe e na executiva está habituado a ser
mimado com kits que incluem máscara para os olhos, protetor de ouvido,
hidratante, meias e umidificador de narinas. Já os passageiros da
classe econômica da TAM, Air France e Continental também recebem máscara
para os olhos e tampão de ouvido. A propósito, esse tipo de acessório
pode ser adquirido nas lojas duty-free dos aeroportos (o conjunto de máscara
para os olhos e protetor de ouvido custa R$ 12, e a almofada ajustável
ao pescoço, cerca de R$ 10). A boa notícia é que as indústrias começam
a encontrar soluções para o desconforto típico de uma viagem de avião.
Já existe, por exemplo, o umidificador e purificador de ar portátil,
que deve ser usado pendurado no pescoço. Custa US$ 60 e está à venda
no site da loja The Sharper Image (www.sharperimage.com). Outra empresa
americana desenvolveu um tipo de capacete chamado Dreamhelmet. Ele serve
de travesseiro, protetor de olhos e ouvidos - além, é claro, de
disfarce de Darth Vader. Custa US$ 30 e pode ser encontrado em três
modelos, um deles de oncinha (www.dreamhelmet.com).
8 - Quais são os lugares mais confortáveis
do avião?
É difícil falar em conforto, quando se constata que a largura média
do assento da classe econômica é de 45 centímetros; o ângulo de
reclinação de sua poltrona, 35 graus e a distância entre as fileiras,
80 centímetros. Na hora de configurar os aviões, as empresas garantem
levar em consideração a estatura-padrão de 1,80 metro. Mas o escritor
João Ubaldo Ribeiro já identificou esse tipo de acomodação como
digna de pigmeu. "Meço 1,73 metro e, mesmo assim, me senti um
galalau nórdico ao tentar ocupar uma poltrona de avião", ele
escreveu na crônica Memórias de um Turista Acidentado. O que
fazer? Quem for alto, deve escolher a poltrona do corredor, a da
primeira fileira ou aquela próxima da saída de emergência (lugares
onde dá para esticar as pernas um pouco mais). Saiba também que as
poltronas das primeiras fileiras também são as menos afetadas pela
turbulência e pelo barulho dentro da aeronave.
9 - Como driblar aquele problema que
pode surgir após a decolagem, o inchaço nos pés?
Mantendo-os em movimento. Aliás, não apenas os pés mas também as
pernas. Isso significa levantar-se, a cada duas horas, e andar pelos
corredores do avião por alguns minutos. Quem viaja na classe econômica
tem a circulação sanguínea mais prejudicada, pois fica muitas horas
na mesma posição, preso ao espaço reduzido. Contudo, mesmo sentado,
é possível fazer alguns exercícios benéficos para o corpo,
movimentando a ponta dos pés ou flexionando os joelhos. Mas,
conforme-se: por mais que você seja metódico, os seus pés sempre vão
inchar um pouco, conseqüência da variação de pressão dentro da
cabine. O que manda o bom senso? Se for viajar de avião, use sapatos
confortáveis, no mínimo, meio número maior que o habitual. Assim, você
não vai precisar ficar descalço durante o vôo para suportar o inchaço
dos pés.
10 - O que faço para não enjoar?
Vale a pena tomar um anti-emético meia hora antes do vôo, seguindo as
orientações do seu médico. Quem tem facilidade de enjoar, não deve
viajar de estômago vazio, muito menos se empanturrar. Se o avião
enfrentar uma turbulência e você começar a se sentir mal, respire
fundo, aumente a saída de ar sobre a poltrona e concentre a atenção
num ponto fixo em sua frente. Algumas pessoas mais sensíveis também
reclamam de indisposição, quando a aeronave começa a manobrar para
decolar. Isso acontece porque o ar que se respira no avião pode conter
odores coletados no exterior, como o da queima do querosene usado como
combustível. Porém, esse problema desaparece tão logo ele atinja
altitude elevada. Outro momento delicado: o piloto não recebe autorização
de pouso e gasta o tempo, fazendo o avião dar voltas. O fato de não
voar mais em linha reta pode provocar enjôo. Se isso acontecer, respire
fundo e adote o mesmo comportamento recomendado para enfrentar a turbulência.
11 - Vou viajar de avião com meu bebê.
Há um lugar para fazê-lo dormir e trocar as fraldas?
A maioria dos aviões, em especial os que fazem as rotas internacionais,
tem um espaço para acomodar berços nas primeiras fileiras. O berço,
próprio para bebês de até 6 meses, deve ser solicitado durante a
reserva. Funciona como um moisés preso a um suporte fixo na parede, em
frente da poltrona da mãe. Em alguns casos, os banheiros das aeronaves
também têm bancada para a troca de fraldas (algo que você deve
indagar também no ato de reserva, pois tudo depende do tipo de
equipamento utilizado). A vantagem de avisar a empresa aérea sobre a
viagem com um bebê é que você passa a dispor de comida especial,
mamadeiras, nécessaire (com artigos de higiene) e travesseiro infantil.
12 - O que as empresas aéreas oferecem
para entreter as crianças durante o vôo?
Quebra-cabeças, carrinhos, lápis de cor, blocos de desenho e bichos de
pelúcia são alguns dos brindes distribuídos aos passageiros mirins.
Varig, TAM, United Airlines, Continental, Air France e British Airways
estão entre as que mais se destacam nesse tipo de serviço. Canais de
desenhos animados e músicas infantis também são opções de diversão
na maioria das companhias. As refeições, de cardápio especial,
costumam ser servidas em louça de temática infantil. Para garantir
esse atendimento diferenciado, avise que vai viajar na companhia de uma
criança ao fazer a reserva.
13 - As empresas aéreas sabem atender
passageiros que precisam de cuidados especiais?
Para ser melhor atendido, explique já no ato da reserva o tipo de
cuidado de que necessita. Há prioridade no embarque (feito cerca de 20
minutos antes dos demais passageiros) e acompanhamento de um funcionário
do check-in até o avião (se preciso, o transporte vai ser feito em
cadeira de rodas). Portadores de deficiência física são acomodados
nas poltronas próximas ao corredor. Se precisar viajar deitado, uma
maca será instalada com a remoção de poltronas. Idosos e gestantes
também têm preferência no embarque. Aliás, grávida de sete meses já
não é mais tratada como um bicho de sete cabeças. Na maioria dos
casos, ela apenas precisa apresentar um atestado médico para poder
viajar.
14 - Morro de medo de voar e não
consigo lidar com isso. O que devo fazer?
Quatro entre dez brasileiros que já embarcaram em uma aeronave
sentem-se inseguros a cada vez que são obrigados a voar. Mas há outra
estatística eloqüente: o avião é hoje um meio de transporte tão
seguro que a probabilidade de acidentes fatais é de um em 2 milhões.
Ok, você tem certeza de que está incluído nessa minoria e não quer
nem saber das dicas dos psicólogos para controlar o medo (como inspirar
e expirar lentamente, uma das técnicas mais simples de relaxamento). Ao
contrário, você se identifica com a história da artista plástica
Elizabeth Pimental. Ela chegou a embarcar no avião que a levaria para
Buenos Aires, mas ficou tão apavorada que conseguiu desembarcar quando
as turbinas já estavam ligadas! "Saí correndo, empurrando quem
aparecia na frente, de comissários a agentes federais. Nem lembro como
cheguei em casa", conta. Bem, não é preciso agir como Elizabeth
para driblar esse problema: se ele existe, também existe a solução -
no caso, ajuda especializada. Em São Paulo, acaba de ser criado o
Instituto Condor de Psicologia e Pesquisa do Medo de Voar (Tel.:
11/3773-8584). Curso pioneiro no país, é monitorado por psicólogos,
pilotos e comissários de bordo.
15 - Ouvi dizer que uma passageira
morreu por causa de problemas circulatórios. Isso pode acontecer
comigo?
O que aconteceu com Emma Christofferson, há dois meses, foi um caso
extremo. Ela morreu logo após desembarcar de um vôo, de 21 horas, de
Sydney a Londres, vítima de uma trombose. Passar horas na mesma posição
estimula a formação de coágulos de sangue nas pernas que podem subir
para o coração, os pulmões ou o cérebro, mas o pior sempre pode ser
evitado. Algumas companhias, caso da Air France e a Lufthansa, exibem vídeos
durante o vôo com exercícios específicos para melhorar a circulação.
Um deles recomenda, por exemplo, que o passageiro estique os braços
acima da cabeça, com os dedos entrelaçados, como se estivesse espreguiçando
- movimento que vai ser repetido dez vezes. É o tipo de exercício que
deve ser feito inclusive por quem não tem problemas circulatórios.
Beber água (1 litro a cada três horas) também é fundamental. Afinal,
o ar da cabine é mais seco do que o do Deserto do Saara.
16 - Sou fumante. Vou ser capaz de
sobreviver a um vôo, sem acender um cigarro?
O comissário de bordo Mário Lemos, da Varig, já viu de tudo: desde
passageiro que segura o cigarro apagado entre os dedos durante horas até
o que não agüenta, remove o filtro e come o fumo! O problema é que o
fumante não pode mais tampar o sol com a peneira: as grandes companhias
aéreas, com exceção da Aeroflot, aboliram o cigarro em seus vôos.
Fumar "escondido" no banheiro também é perda de tempo - o
detector de fumaça dá sinal da infração, por mais que se tente
tampar o sensor com copo plástico. Para atenuar a angústia, empresas
como Varig, Lufthansa, Air France e Swissair, distribuem chicletes com
nicotina. Mas os especialistas são claros: após o jantar, tome um
comprimido - e durma!
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